Adão Negro (com spoilers)
“Apartheid disfarçado todo dia, quando me olho não me vejo na TV, quando me vejo estou sempre na cozinha ou na favela submissa ao poder…” Essa é primeira estrofe de “Adão Negro”, música de um grupo de reggae homônimo oriundo de Salvador em atividade desde 1996. Ao assistir às primeiras cenas do filme, entendi porque a banda escolheu o nome do anti-herói para cantar sobre opressão e justiça social: foi um ambiente assim que deu origem a Adão Negro – vingativo e violento demais para ser um herói, porém consciente e justo demais para ser considerado um vilão.
No início do filme somos apresentados a Adam ainda em sua forma humana, sendo vítima do imperialismo na antiga Kahndaq. Posteriormente, somos conduzidos à Kahndaq nos dias atuais, ainda sofrendo as mazelas de uma sociedade explorada, mas que carrega em sua história o Campeão que lutou contra a escravidão e tem uma estátua em sua homenagem. Teth-Adam é despertado ao ouvir aquela palavra que vocês já sabem, e é identificado como um perigo por Amanda Waller (ela mesma), que convoca a Sociedade da Justiça para captura-lo. Dessa breve descrição do plot inicial, percebemos que essa obra se passa no mesmo universo dos filmes anteriores da DC, e somos apresentados a um novo grupo de super-heróis, todos inéditos nas telonas: Ciclone, Esmaga-Átomo, Gavião Negro e Senhor Destino.
O ônus de estarmos acostumados com filmes de super-herói há 15, 20 anos (se considerarmos os filmes dos X-Men e do Homem-Aranha) é que se torna muito difícil de vermos algo inovador e original atualmente. E Adão Negro, infelizmente, padece desse mal: tudo ali parece uma grande colagem de coisas que já vimos antes, seja na paleta de cores de Kahndak que me lembrou muito “300” do Zack Snyder, seja o fato de os poderes dos novos heróis se assemelharem aos de heróis já bastante conhecidos no MCU, como Homem-Formiga, Falcão, Doutor Estranho e por aí vai. Há, ainda, uma cena do próprio Adão Negro que é praticamente idêntica àquelas cenas do Mercúrio que fizeram tanto sucesso. Somado a isso, temos o fato de o fio condutor da história ser uma criança, o que também se tornou bastante recorrente em obras do gênero. Outros pontos negativos do filme, para mim, são as piadocas, o humor fora de tom, teve apenas um momento em que eu realmente ri, e que as demais pessoas da sessão reagiram. De resto, não funcionou. A trilha sonora, apesar de ter excelentes músicas, não parece casar com as cenas, não ficou ruim, mas ficou esquisito.
Mas “Adão Negro” não traz só mais notícias, tem pontos positivos também. Apesar de um enredo genérico e comum, ele cumpre o que se propõe. Não é pretensioso, ele é efetivo. É de fácil compreensão, trata de assuntos sérios, não traz reviravoltas malucas e conta uma história com início, meio e fim. Tem tela verde? Tem, e bastante. Mas a gente que acompanha esse tipo de filme tem que abstrair isso, até porque super-heróis, infelizmente, não existem de verdade. Tem atuações bacanas, especialmente de Sir Pierce Brosnan, que deu toda uma aura imponente ao Senhor Destino, e uma interpretação bastante visceral de Aldis Hodge como Gavião Negro, que enche os olhos e rouba a cena. E tem o Dwayne Johnson fazendo carão e mostrando seus músculos, ou seja, entregando o que exatamente se espera dele.
É bom ver a DC se reorganizando e fazendo o simples, jogando no seguro, talvez dando aquele passinho para trás antes de andar para frente de novo. “Adão Negro” não é perfeito, longe disso. Mas como diz o crítico Raphael PH Santos, “feito é melhor do que perfeito”. Eu não saí encantada do cinema, mas sim satisfeita. E acho que “Adão Negro” pode, sim, ser o primeiro passo da DC para uma nova era nos cinemas. E isso graças ao The Rock, que chamou a responsabilidade, assumiu as rédeas do projeto e o tornou realidade. Espero que a DC tenha um futuro auspicioso nos cinemas. Os nerds agradecem.
Nota: 8,0
P.S.: chorei na cena pós-créditos. Ainda mais ao vê-lo com aquele cabelinho.
Roberta